La cosa nostra

Um dia destes falava com uma amiga siciliana sobre um dos maiores tabus (a máfia, claro). De como a máfia, nos dias de hoje, ainda se pratica em Palermo, mesmo debaixo dos nossos olhos. Uma cidade onde as pessoas ainda têm medo e, imagine-se, 80% dos comerciantes pagam uma taxa ao pizzo (para uma cidade com 1,2 milhões de habitantes, imagine-se). Contava-me, por exemplo, que se diz por aí que há muita gente que não quer construir um serviço de Metro subterrâneo aqui porque há mafiosi que têm espécies de bunkers secretos debaixo dos nossos pés (sítios onde fazem os negócios, para onde levam as pessoas que desaparecem subitamente - as quais a polícia nunca mais os encontra, no decorrer de processos que levam, alguns, mais de 30 anos de investigação). Que até os carabinieri estão envolvidos neste negócio tão enraizado na mente de todos que será virtualmente impossível acabar com a máfia.

Definitavemente um assunto que me interessa e me desperta curiosidade. E que, ao mesmo tempo, me deixa um leve friozinho no estômago cada vez que saio à rua e me cruzo com as pessoas. Imagino quem possam ser, quem possam conhecer, para onde se dirigem... Ou mesmo tentar imaginar em que zonas da cidade se possam encontrar estes esconderijos.

Sinto-me parte de um filme de ficção, de uma série da HBO. Mas foi o que essa rapariga me disse: "A máfia existe. Está em Palermo, agora, a tomar acção, de qualquer maneira. As pessoas dizem que não, mas está. Se eu pudesse fazer qualquer coisa... o problema é que ninguém pode."